Um dos grandes desafios que temos atualmente, no que diz respeito à avançarmos nas ações junto às PCDs, é vencer uma nefasta cultura de analisar fatos e circunstâncias de forma na sociedade, particularizada e não como um todo. Explico: – quando lançamos os olhos e uma análise sobre uma questão individualizada aparteando a, do conjunto de uma série de questões que a envolve, corremos sempre o risco de uma análise pequena e daí, ações também pequenas, com resultados obviamente também pequenos.
Pois bem, quando nos propomos a fazer uma análise sobre o processo histórico das questões afetas às pessoas com deficiências, encontraremos num passado bem recente, uma situação onde estas pessoas eram literalmente escondidas pelas suas famílias em seu núcleo familiar. Poucas eram as interações que as pessoas com deficiências faziam com a sociedade em seu ambiente como um todo. Felizmente, esta fase está cada vez mais no passado, vemos ainda, que distante da velocidade ideal, que há sim, claros avanços neste segmento social. Surgiram e se fortaleceram, entidades representativas, houve maior interação e sensibilização do poder público, ainda que infinitamente distante do necessário. Também os Conselhos nos âmbitos municipal, estadual e federal, se fortalecem ao passar dos anos. Tudo isso nos enche de esperança que tenhamos no mais curto espaço de tempo possível, outros avanços que denotem um ajuste da sociedade e dos meios à pessoa com deficiência e não o contrário, ou seja, não são as pessoas com deficiências que devem se adequar ao mundo e sim o mundo às pessoas com deficiências.
Quando transferimos esta visão para o mundo do trabalho, há de mantermos esta percepção e cuidados, pois haverá ainda, muito que avançarmos no que diz respeito a promovermos a devida integração de pessoas com deficiência. O último censo demográfico do IBGE, de 2010, revelou que 23,9% da população possui algum tipo de deficiência, são 45 milhões de brasileiros com algum tipo de deficiência, amparados pela Lei. 8213/91, conhecida como Lei de Cotas.
A Lei de Cotas, estabelece uma cota para contratação de pessoas com deficiência ou reabilitados nas empresas com mais de 100 empregados, tais empresas devem preencher entre 2% e 5% do seu quadro de vagas com trabalhadores que possuam algum tipo de deficiência.
Importante destacarmos, que numa eventual dispensa imotivada, esta, só poderá acontecer com a contratação de uma pessoa nas mesmas condições para a mesma posição e nas mesmas condições mínimas já estabelecidas pela vaga substituída.
Mas o desafio está justamente neste contraponto, não basta institucionalizar uma demanda social e um direito apenas no pragmatismo da norma, é preciso qualificar e desenvolver tais pessoas e mais que isso, nos dias atuais, o desafio é também estabelecer nestas pessoas com deficiências, os mesmos desejos e desenvolturas apregoadas em construirmos os líderes do século XXI, onde pressupõe ser este líder, o chamado Líder Educador, apto a gestar suas emoções e a mediar crises situacionais. Este a meu ver é o melhor caminho para esta inclusão no mercado de trabalho e na sociedade como um todo.
É inegável que as lutas institucionais, muito tem avançado. A criação do Dia Nacional de Luta da Pessoa com Deficiência, celebrado no dia 21 de setembro, o estabelecimento do Estatuto da deficiência, que acertadamente impôs a educação inclusiva na rotina educacional e com educação mais acessível, dentre outras ações certamente fará com que tenhamos pessoas com deficiências ou não, muito mais apropriadas às boas relações e evolução humana.
Outro fato em destaque, é que em 2008, o Brasil ratificou a Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência, adotada pela Organização das Nações Unidas (ONU). A convenção seguramente retratou um período acumulativo de lutas sociais pelo mundo, sendo justamente desta Convenção que surgiu o Estatuto da Pessoa com Deficiência, que trata os objetivos desta transformação de forma mais concreta e garante uma série de direitos relacionados à acessibilidade, sociabilidade, educação, saúde e acesso ao trabalho, além de estabelecer rol de punições para aquelas atitudes que objetivamente caracterizam ações discriminatórias.
Numa era onde a velocidade com que as inovações ocorrem, destoa de outras épocas também inovadoras, há de pensarmos com que velocidade também estamos pautando e tocando esta luta pelo fortalecimento das políticas públicas, privadas e mesmo no terceiro setor, e que são referentes à inclusão na sociedade desta população com algum tipo de deficiência. Exemplo é o Dia Nacional de Luta da Pessoa com Deficiência que foi instituído por iniciativa de movimentos sociais, em 1982, mas oficializado apenas em 2015 pela Lei Nº 11.133.
A data foi escolhida pelos movimentos sociais justamente como uma analogia e para coincidir com o Dia da Árvore, representando o nascimento das reivindicações de cidadania e participação em igualdade de condições.
Logo, dotar as empresas de um olhar diferenciado não apenas “cotista”, mas de integração plena na contratação de PCDs é hoje um dos principais desafios dos profissionais que atuam com formação e desenvolvimento humano e especialmente aos profissionais de RH.
Também se faz uma especial atenção em nossos processos de Desenvolvimento Estratégicos de Pessoas e Lideranças, tais propostas de treinamentos disponibilizados no mercado devem também se atentar em sua formulação, de conter conteúdos programáticos voltados aos portadores de deficiências com suas histórias de lutas e especificidades na construção do tecido social ao longo da história, para que se desenvolvam não com um espectro neurológico de preenchimento de vagas em cotas e sim de ocupação de espaços de gestão, inovação e liderança.
Há de entendermos, que tais pessoas carregam em si, crenças, percepções e inúmeras variantes diferenciadas de “uma pessoa não portadora de deficiência”, entendendo aqui o conceito, como aquele expresso na norma e não nas vivências relacionais, pois obviamente todos nós seres humanos, possuímos algum tipo de deficiência e/ou limitação.
Estamos falando então de mais de 45 milhões de brasileiros, dos quais 27 milhões estão em idade para atuar no mercado formal de trabalho, com direitos trabalhistas e previdenciários, podendo contribuir decididamente para suplantarmos a crise de produtividade, de inovações e de relacionamentos humanos na economia brasileira.
Não nos cabe mais, tratar o tema apenas como “política de diversidade”, que busca cumprir acima de tudo a determinação legal das cotas previstas na legislação. Esta preocupação deve ir muito além de incluir uma pessoa com deficiência dentro do quadro de colaboradores. Esta inclusão passa pela observação do todo e não desta pequena parte. As empresas devem ter em seus processos e procedimentos operacionais todo tipo de acessibilidade tais como (softwares adaptados, logística para cadeirantes, trilha para cegos, transcrição para surdos, dentre outros cuidados) e, acima de tudo, uma sensibilização real para todos os gestores acolherem este novo profissional, bem como desenvolver os demais colaboradores para bem lidar com este novo colega de trabalho e suas necessidades especiais.
Paralelamente a isso o poder público também deve estar atento, promovendo acessibilidade no transporte, mobilidade nas ruas, acesso à educação dentre outras políticas públicas, criando assim, um novo modelo de inclusão em parceria com a iniciativa privada e o terceiro setor.
Hoje o poder público transfere de forma desigual, a responsabilidade em sobremaneira ao setor privado, de equalizar este desafio. Um exemplo, cobra se o preenchimento de cotas, mas em muitas situações a pessoa com deficiência se quer tem como chegar ao seu local de trabalho pela deficiência no transporte público, ou de acesso a mobilidade nas áreas públicas.
Em regra, nos dias de hoje, apesar dos avanços, o que vemos é a ocupação das vagas em cargos ocupados chamados de apoio, ou seja, aqueles que exigem pouca qualificação e quase sempre não exigem ensino superior e por isso recebem baixos salários.
Um dado importante para termos a dimensão do desafio é que a RAIS (Relação Anual de Informações Sociais) de 2016 apontou que o mercado de trabalho não abriga nem 1% do total de brasileiros que possuem alguma deficiência, 61% das vagas destinadas exclusivamente a profissionais com deficiência são para postos operacionais e auxiliares.
Temos também um desafio primordial, o qual tenho assumido em minha área de trabalho que é a formação de lideranças e de equipes de alta performance à luz do desenvolvimento comportamental. É primordial as PCDs estabelecer neste debate as características que temos tratado em todos os demais fóruns de emprego, inovações, produtividade, etc., quais sejam, o limiar das novas características do novo líder do século XXI, características estas que abarcam além de toda a boa formação intelectual e laboral, fundamentalmente aquelas ligadas a gestão da Inteligência Emocional. Essas são inclusive, as competências sugestionadas pelo Fórum Econômico Mundial, “The Future of Jobs” (O futuro do trabalho), o profissional seja ele qual for precisará ter tais características até 2020 para adentrar, manter se e consolidar no mundo do trabalho, aqui em especial também aplicadas obviamente à inclusão das PCDs.