Ha muito que o tema “Clima Organizacional” perfaz o dia a dia das empresas, de consultores, palestrantes e organismos relacionados a educação corporativa.
Não é para menos. O Brasil continua a viver e conviver, com os piores dados quando a aferição se faz na produtividade per capta de nossos trabalhadores, ou na mensuração da eficiência de gestores, empresários e executivos, ou seja, de nossas lideranças.
Dados coletados por inúmeros órgãos e institutos, demonstram que em média, temos os trabalhadores mais estressados do mundo. Uma pesquisa elaborada pela empresa de recrutamentos Robert Half revelou que os brasileiros são os profissionais mais estressados do mundo. Mais de 40% dos trabalhadores sofrem frequentemente de estresse e ansiedade em seu emprego, a média mundial ficou em 11%. Perceba a disparidade.
Quando o tema é rotatividade no emprego, somos o campeão mundial. O Brasil traz marcas assombrosas, 76% de nossos trabalhadores mudam de emprego por falta de gestão de suas emoções e de gestão de suas crises situacionais, o que denotam baixa qualidade na comunicação, equipes desmotivadas, falta de sinergia e objetividade, rotineiros conflitos, dentre outros.
O nível de prevalência da ansiedade medido pela OMS – Organização Mundial da Saúde, aponta que 4,4% da população mundial é afetada por este transtorno, sendo que no Brasil este índice, é o maior registrado no mundo, chegando a bater os 9,3%, ou seja, 5,8% dos brasileiros, estão hoje acometidos fortemente por este mal.
Poderia abrir neste artigo, inúmeros outros dados que castigam nossa produtividade, mas são dados de maior e mais fácil acesso na internet a disposição de todos. Tais dados, são suficientes para dar a exata dimensão da realidade vivida nas empresas, cujos reflexos são eminentes e devastadores, evidenciando o atual nível do chamado “Clima Organizacional”.
Eu, quando chamado, não preciso ir in loco para diagnosticar com elevada precisão, o clima organizacional de uma empresa, que em média se traduz neste quadro: 61% dos funcionários, não estão verdadeiramente comprometidos com a empresa, embora realizem suas funções, eles não pensam em inovações, não se atentam os custos gerados, não executam suas tarefas em sua melhor performance. Já 18% destes funcionários, além de não se comprometerem com a empresa, acabam por depor contra ela em seus conceitos externos ou atos internos.
Ou seja, apenas 21% dos funcionários em média se mostram verdadeiramente comprometidos com as empresas em que trabalham. Em anos de experiências vividas, com raras exceções, em regra, são estes os números independentemente do segmento analisado.
Parece algo impensável quando vivemos então, em um pais onde o que mais precisamos e de forma urgente, melhorar a produtividade, elevar a massa salarial, as inovações. Pouca novidade até aqui não é mesmo? Mas ao ler este artigo, certamente você terá o mapa da empresa onde trabalha e verá claramente onde cada um de seus colegas se enquadram.
Mas resumo meu foco, a despertar agora, a atenção de todos, frente ao que pouco se fala, ou se escreve. Chamo sua atenção ao que aponta a neurociência quando nos ensina por exemplo, que não há dissociação entre o ser laboral e o ser social, ou seja, o cidadão é um só agente, ele não se divide em seus cenários de vivências. O agente cidadão da empresa, é o mesmo da família, dos amigos, do meio acadêmico.
O baixo clima organizacional nas empresas brasileiras, tem sim sua extensão nas relações sociais e refletem nos níveis de violência, de discórdias nos relacionamentos afetivos e interpessoais, nos baixos níveis de saúde pública, na precarização do ensino, no afastamento e agravamento da individualidade das pessoas, dentre outros.
Por isso, não há mais de se falar de aferição ou melhora do “clima organizacional nas empresas” e sim de ressociabilidade do agente cidadão, partindo da premissa, que todos os interesses no ser humano, partem de seu núcleo central neurológico, que é seu interesse próprio. Logo, continuar a investir em treinamentos motivacionais, ou dinâmicas que visam aumentar o comprometimento de trabalhadores nas empresas e com seu trabalho, é insuficiente, pois no fundo, lá no espectro neurológico da razão, sabe se que a empresa não é dele e que o ofertado é ao bem e interesse maior da própria empresa.
Por isso, há de atentar se a esta ruptura de modelos, ver e mais que isso, enxergar o indivíduo, como um todo na sociedade e não como parte na empresa. Esta indivisibilidade neurológica do ser humano, é a premissa elementar de novas práticas e novos formatos de treinamentos, palestras, etc., que não se prendam apenas a área motivacional, mas alicercem se, nas trocas experiênciais construtivistas, que devem então, estar a serviço de reconstruir a planta neurológica do indivíduo como um todo e não em parte. Bem-vindos ao mundo do neurocoaching e do desenvolvimento estratégico de pessoas.